A intersexualidade de Deus
Ser um homem feminino
Não fere o meu lado masculino
Se Deus é menina e menino
Sou Masculino e Feminino... (Pepeu Gomes)
Segundo a psicanálise, em
termos simplistas, o homem quando julga seu semelhante, o faz pela consciência
paterna (masculina). Quando o ama e o perdoa, o faz pela consciência
materna. (feminina)
Muitos teólogos, entre eles a
criadora da teologia feminista Rosemary Ruether, defendem a ideia de que este mesmo
dualismo de gênero sexual pode ser encontrado em Javé. O psicanalista Judeu Erich
Fromm, em a “Análise do Homem”, diz algo interessante para que se possa
entender o peso do princípio paterno e materno no conceito “Deus” da
tradição Judaico-cristã:
“O Deus que manda o dilúvio
porque todos são fracos, exceto Noé, representa a consciência paterna. O
Deus que fala a Jonas com compaixão por aquela grande cidade em que
vivem mais de seis vintenas de milhares de pessoas que não sabem distinguir a
mão direita da esquerda, fala com a voz da Mãe que a tudo perdoa sempre.”
O teólogo Eduardo Medeiros,
em sua análise bíblica sobre a questão, desenvolve sua tese com base em um dos
nomes atribuídos a Deus no Antigo Testamento, mais especificamente o Shadai.
Segundo ele, “o nome Shadai
para Deus aparece no livro de Jó. É o nome menos comum para a divindade
hebraica, aparece apenas 48 vezes, contra as 6 mil vezes de Javé e 2 mil vezes
de Elohín. Mas por que será que o autor de Jó, escritor de um alto poder de
reflexão teológica e filosófica, escolheu exatamente esse nome?
Os dicionários geralmente traduzem Shaday por "Todo-Poderoso",
"onipotente"; mas o nome não diz só isso, está incompleto. Shadai é
um "DEUS-MÃE": carinhoso, amoroso, terno, providente, generoso.
A palavra Shadai vem de "shad" que quer dizer: mama, seio, úbere.
Expressa a ideia de fartura, feminilidade, abundância, ternura, carinho, amor.
Quando Deus apareceu a Abraão e lhe prometeu "muitos filhos", o nome
que aparece é Shadai, ou seja, o Deus dos seios maternos que têm leite em
abundância para milhões de filhos.
O Shadai está de pleno acordo com o "Deus é amor" do evangelho de
João. Certa vez o Papa João Paulo I falou que "Deus é pai e Deus é
mãe" e criou um burburinho teológico: seria uma nova teologia papal? Não,
essa "teologia" já estava lá nos antigos tempos do gênesis.
E é exatamente esse Deus que possui tetas para alimentar amorosamente seus
filhos que Jó invoca. O personagem ali tipifica a própria tragédia humana,
queria o consolo do Shadai.”
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