quarta-feira, 10 de outubro de 2012




A intersexualidade de Deus

Ser um homem feminino
Não fere o meu lado masculino
Se Deus é menina e menino
Sou Masculino e Feminino... (Pepeu Gomes)


Segundo a psicanálise, em termos simplistas, o homem quando julga seu semelhante, o faz pela consciência paterna (masculina). Quando o ama e o perdoa, o faz pela consciência materna. (feminina)

Muitos teólogos, entre eles a criadora da teologia feminista Rosemary Ruether, defendem a ideia de que este mesmo dualismo de gênero sexual pode ser encontrado em Javé. O psicanalista Judeu Erich Fromm, em a “Análise do Homem”, diz algo interessante para que se possa entender o peso do princípio paterno e materno no conceito “Deus” da tradição Judaico-cristã:

“O Deus que manda o dilúvio porque todos são fracos, exceto Noé, representa a consciência paterna. O Deus que fala a Jonas com compaixão por aquela grande cidade em que vivem mais de seis vintenas de milhares de pessoas que não sabem distinguir a mão direita da esquerda, fala com a voz da Mãe que a tudo perdoa sempre.”

O teólogo Eduardo Medeiros, em sua análise bíblica sobre a questão, desenvolve sua tese com base em um dos nomes atribuídos a Deus no Antigo Testamento, mais especificamente o Shadai.

Segundo ele, “o nome Shadai para Deus aparece no livro de Jó. É o nome menos comum para a divindade hebraica, aparece apenas 48 vezes, contra as 6 mil vezes de Javé e 2 mil vezes de Elohín. Mas por que será que o autor de Jó, escritor de um alto poder de reflexão teológica e filosófica, escolheu exatamente esse nome?

Os dicionários geralmente traduzem Shaday por "Todo-Poderoso", "onipotente"; mas o nome não diz só isso, está incompleto. Shadai é um "DEUS-MÃE": carinhoso, amoroso, terno, providente, generoso.

A palavra Shadai vem de "shad" que quer dizer: mama, seio, úbere. Expressa a ideia de fartura, feminilidade, abundância, ternura, carinho, amor.

Quando Deus apareceu a Abraão e lhe prometeu "muitos filhos", o nome que aparece é Shadai, ou seja, o Deus dos seios maternos que têm leite em abundância para milhões de filhos.

O Shadai está de pleno acordo com o "Deus é amor" do evangelho de João. Certa vez o Papa João Paulo I falou que "Deus é pai e Deus é mãe" e criou um burburinho teológico: seria uma nova teologia papal? Não, essa "teologia" já estava lá nos antigos tempos do gênesis.

E é exatamente esse Deus que possui tetas para alimentar amorosamente seus filhos que Jó invoca. O personagem ali tipifica a própria tragédia humana, queria o consolo do Shadai.


quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Estou pessimista sou!

 


Por Donizete

Estou começando a ficar pessimista quanto ao encarar a vida e ver nela ainda que seja um fio de esperança. Seria isso uma conversão ao existencialismo filosófico ou é o primeiro sintoma de uma crise existencial por vir? Penso não ser nem um dos dois. Mas estou operando atualmente dentro de um sistema com visão de que não vale a pena acreditar no valor da existência. Que jamais vai haver melhoras à nível moral e material no mundo. E nem progresso nas condições sociais ou qualquer evolução para melhor, seja em que campo for.

Sei que o pessimismo é antes de tudo existencial e metafísico. Mais são as contingências concretas e vividas empiricamente que nos traz esta sensação de impotência ante as demandas da vida. De ver as coisas acontecendo em total antagonismo com aquilo que objetivamente desejaríamos ver. O que faz suscitar a dúvida: será que a felicidade é quimera, pura ilusão? Como fumaça que se levanta mais logo se vai com o vento? Efêmera como a vida? Estou começando a acreditar piamente que Schopenhauer tinha razão ao dizer que viver é sofrer com pequenos instantes de felicidade. Sim, ele estava certo, pois a vida é de fato essencialmente tristeza e sofrimento. Note que no período em que estamos acordados são raros os lampejos de euforia alegria e prazer. No mais são momentos pautados pela preocupação, pelo “correr atrás de” ou “livrar-se de”, da “busca incessante por”. São momentos dominados pelo desejo que nos traz a lembrança de que algo nos falta, da saudade nostálgica, do tédio, da melancolia, da ansiedade angustiante e sentimentos outros, que se não são sofrimento em si, a linha que os separa é tênue demais para ser percebida. Até mesmo aqueles momentos de contemplação, onde temos a sensação de que nossos sentidos nos abandonam, também comunica tristeza e depressão. A tristeza está contida na voz do cantor. Nos versos do poeta.

A força que nos move e faz com que esta realidade tenha seu efeito nocivo atenuado, é a esperança que um dia, quem sabe, consigamos alcançar a tão esperada ataraxia. Mas aí também emerge outra questão não menos perturbadora. Que é o fato da ataraxia estar intrinsecamente associada à apatia, a total insensibilidade às paixões, ao desejo, ao prazer e a dor. Que felicidade é esta? Seria pior ao meu ver, viver cotidianamente estes ciclos intermináveis, irritantemente repetitivos. Sem a mínima dose de prazer. Melhor ficar como está.

Será que a existência é um completo sem sentido? Assim pensava Kierkegaard. Nestes mesmos termos ponderava Nietzcshe. Heidegeer que o diga. Sidarta Gautama afirmou que enquanto estivermos atados ao fio da nossa existência iremos sofrer. O velho Buda tinha plena razão ao dizer que o homem sofre ao nascer, sofre ao envelhecer, sofre quando se está enfermo, quando se une com aquilo que é des-prazeroso ou se separa do que lhe é prazeroso. Sofre ao não obter o que quer. Enfim, sofre quando morre.

Ser desiludido com sua própria existência não é prerrogativa dos fracos. Grandes espíritos também são. E tornou-se um sentimento tão comum que proliferam como praga os livros e palestrantes de auto-ajuda. Que prometem revolucionar os humores e expectativas das pessoas com receitas tolas e infantis, tipo: “pense positivo” “recite frases otimistas” “diga não ao pessimismo” e outros mantras ridículos que surtem efeitos apenas em espíritos fracos. Aliás, esta tem sido a tônica das mensagens pregadas também nos púlpitos de muitas igrejas.

É desonestidade intencional objetivar manter as pessoas presas nas rédeas da ilusão com promessas mirabolantes, gerando nelas a idéia de estarem vivendo num mundo surreal sob a expectativa de que mal nenhum os atingirá. Quando sensato seria dizer para as pessoas que o acaso é caprichoso. Por isso devem estar agradecidas pelo fato de terem sobrevivido por mais um dia, sem que um carro desgovernado atropele seus filhos que brincavam no play ground da escola, sem que o avião no qual viajou sua esposa tenha caído. Sem que tenha sido vitimado por um assaltante. Sem que seja atingido por uma bala perdida, ou acometido por uma doença grave qualquer. Enfim, considere-se um sujeito afortunado por ter sobrevivido por mais um dia nesta terra de ninguém. Um mundo sofredor. Inexoravelmente sofredor.  

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quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Homo Philosophicus




EL, EL, EL, GABRIEL (Adriana Calcanhoto)


Porque o fogo queima? Porque a lua é branca?
Porque a terra roda? Porque deitar agora?
Porque as cobras matam? Porque o vidro embaça?
Porque você se pinta? Porque o tempo passa?
Porque que a gente espirra? Porque as unhas crescem?
Porque o sangue corre? Porque que a gente morre?
Do que é feita a nuvem? Do que é feita a neve?
Como é que se escreve Réveillon ?

A filosofia está em todos os lugares, porque cada um de nós, ao longo da vida, se confronta com perguntas filosóficas. Sejam elas das mais simples até as mais complexas. As perguntas filosóficas são compainhas constantes. Do berçário até à clínica de repouso para idosos, nunca paramos de pensar e falar sobre questões filosóficas. Pode haver dúvidas sobre o quanto os seres humanos são realmente sábios, mas é indiscutível o quanto somos filosóficos. Nossa espécie deveria ser chamada de “homo philosophicus”.

O fato de essa onipresença da filosofia não ser de conhecimento comum é em si próprio uma manifestação do seu paradoxo. A maioria das pessoas não percebem que muitas das perguntas sobre as quais vem refletindo sozinha ou na compainha de amigos estão na própria raiz da filosofia.

À exemplo do Gabriel, quando você era pequeno, torturava os adultos assim como você se sente torturado diante das mais variadas perguntas que as crianças lhe fazem.

Quem nunca se irritou diante da insaciável curiosidade e sede de conhecimento que elas possuem, demonstrados nos seus inumeráveis porquês? Quando elas entram na fase de descobrir, querem saber a fundo a utilidade prática de tudo que lhe está sendo ensinado e dos objetos à sua volta. Geralmente elas querem saber a causa de um evento que elas presenciam. Logo que a causa daquele evento lhe é explicada ela quer saber o que causava aquela causa. Via de regra os pais se estressam antes que a curiosidade da criança em relação à cadeia de causas se esgote. Contudo, quando pesquisadas com tenacidade e criatividade suficientes, essas perguntas comuns e simples crescem e se tornam grandes sistemas filosóficos. Aliás são assim que eles nascem.

Sócrates utilizava-se deste método na sua busca de conhecimento. Com a premissa de que nada sabia, fazia uma série de perguntas ao seu interlocutor, e mediante a perplexidade a que as respostas iam dando origem, o levava a uma depuração intelectual, e consequentemente a descoberta da verdade em questão.

Ter uma mente questionadora é uma virtude inata do ser humano. A reflexão é uma das faces maravilhosas da nossa tradição. Nosso principal estímulo é de que a filosofia não é apenas para pessoas brilhantes e de outro mundo, mas simplesmente para as pessoas que pensam, de almas curiosas.

Perguntaram, certa vez, a um filósofo: “Para que filosofia?”. E ele respondeu: “para não darmos nossa aceitação imediata às coisas, sem maiores considerações”.

domingo, 8 de julho de 2012

DIÁLOGO COM BASE NO MÉTODO HISTÓRICO-CRÍTICO




Por Donizete

Este texto abriga um diálogo entre eu (Doni), a Mari e o Edu, publicado originalmente na forma de comentários de um texto em meu blog.  O leitor detalhista poderá notar algumas frases desconexas, falhas na estruturação textual e até erros ortográficos. O que é normal por tratar-se de uma conversa casual e despretensiosa entre nós. A princípio pensei em fazer algumas adaptações, mas de comum acordo e com a intenção de preservar a originalidade do que pensamos naquele momento, preferimos não editar nada em nossas falas.

MARI. Gostaria de lhes fazer umas perguntas: sobre a interpretação bíblica, sempre soube que não se pode utilizar um versículo isoladamente para fundamentar uma doutrina. Mas qual deve ser o contexto? Um texto? Um capítulo ? Um testamento? Pois a Bíblia é um livro que é uma coletânea. Uns são proféticos, outros não. Uns canônicos, outros apesar de não canônicos também são utilizados como referência não é? Então qual é o contexto? A Bíblia como um todo? É sempre assim?

DONI. Um dos problemas que surgiram após a divisão da Bíblia em capítulos e versículos, foi exatamente ao acentuar a possibilidade de se desconectar fragmentos de um texto, e particularizar uma interpretação que não estava originalmente no pensamento do autor. Infelizmente isso acontece com frequência.
Por isso que uma das regras elementares da hermenêutica, é de que o contexto (macroexegese) deve ter a prioridade no entendimento das escrituras. Como não sou defensor da inerrância, não acredito que a Bíblia a si mesma interpreta, como advoga alguns. Existem elementos da história e da ciência, que precisam ser adicionados para uma melhor compreensão. O entendimento do contexto literário e histórico também é fundamental, pois muitos textos tiveram valor apenas temporal. Considerando também que todos os escritores bíblicos viveram num mundo pré-científico, e seu conhecimento do mundo era primitivo, segundo nossos padrões. Então não podemos adotar a cosmovisão deles e a partir dela buscar o modelo para a nossa realidade. Outra regrinha básica da hermenêutica, é de que, se dois textos parecem contradizer um ao outro, o mais claro deve lançar luz sobre o ambíguo.

EDU, Eu não seguiria essa regrinha não...
Eu diria que quando dois textos bíblicos se contradizem (e existem centenas deles nessa situação) o problema é a diferente visão de cada autor sobre a questão tratada.

MARI. Sabe que fiquei pensando em uma coisa. Se a Bíblia é um livro inspirado e seu objetivo é unidade, já que segundo dizem, ela é a única fonte que devemos adotar quando o assunto é Deus, não é uma contradição que haja tanta contradição? Pois até mesmo aquela questão sobre a imagem que podemos formar de Deus, a Bíblia apresenta duas versões: no velho testamento Deus iracundo, no novo Deus pai bondoso. De um lado, um Deus que tudo faz por amor, Do outro um Deus que é segundo dizem alguns "fogo consumidor". Então, essa história de texto mais claro não é subjetivo também? 

DONI. O Antigo Testamento foi escrito numa conjuntura em que a religião era estatal. Javé era Deus dos exércitos, guerreiro e vingativo. A figura do diabo ainda não existia. Não era considerada naquele contexto. O fator causalidade era considerado de forma acentuada no pensamento hebreu. E boa parte desse pensamento continuou vigente na igreja nascente. Lembra de Ananias e safira, e o castigo imediato sofrido por Herodes? Ambos os casos relatados no livro de atos. A questão é que os escritores atribuíam a Deus a responsabilidade inclusive por estes atos. Mas na verdade Mari, Deus sempre foi o mesmo! A conjuntura é que determinava quais seriam seus atributos mais atuantes, a partir da interpretação de cada escritor.
Lembra que na idade média, a própria igreja colocou uma armadura em Jesus e o convidou para as cruzadas? É uma questão de cosmovisão!

 EDU.  Destaco sua pergunta: "não é uma contradição que haja tanta contradição?"
Eu te respondo, não! Seria esquisito sim, se uma coletânea de textos religiosos escritos num período de 1600 anos se harmonizassem perfeitamente uns com outros. Aí sim, teria algo de muito errado.
 As contradições da Bíblia são o reflexo do pensamento e da fé do Israel antigo; os escritores bíblicos não eram anjos e sim homens, com todas as suas contradições, ambiguidades e visões particulares do mundo e de Deus. Num cenário assim, o contraditório é esperado e até desejável. Logo, esqueça daquelas teorias ortodoxas da "inerrância bíblica" e da "inspiração plena ou verbal"

 MARI. Eu já esqueci!!! rs... E meu questionamento foi feito porém sob essa ótica de quem acredita nisso piamente. Como acreditar na inerrância diante desses dados? Isso que você falou é o que eu acredito também, já falei isso em outros comentários. O que quis saber é como que a teologia afirma que a bíblia foi inspirada por Deus, e nesse caso é a verdade absoluta, como ela explica essa contradição e consegue afirmar tudo isso? A partir de quando essa idéia acompanha a igreja? Foi logo que a bíblia foi compilada? Foi por causa de algum dado histórico ou naturalmente se aceitou que o texto bíblico é a verdade sobre Deus? Enfim, em qual momento a bíblia foi santificada como a quarta pessoa da trindade?

EDU. Sou um questionador dessa confissão. Na verdade, Deus nunca falou uma única palavra do que está escrito na bíblia, cada escritor, profeta, rei, soldado, pescador, farizeu, etc, lhe pôs as palavras em sua boca conforme recebia do próprio inconsciente. Os fundamentalistas, autores da doutrina da inerrância, costumam fazer verdadeiros exercícios para conciliar as contradições (ou cosmovisões) diferentes da bíblia, já que eles não aceitam que haja tais cosmovisões. Até hoje os conservadores evangélicos gostam de citar textos do AT para justificar algum padrão moral, se esquecendo de levar em conta todo o contexto em que tais livros foram escritos. E digo mais, muita coisa no NT também segue o mesmo caminho, ou seja, textos que nada têm a nos dizer se forem lidos literalmente. Relativizar ensinos bíblicos é necessário para não se cair em anacronismos. Mas os ortodoxos se arrepiam quando ouvem dizer que a bíblia deve ser relativizada e continuam tomando para si (e querendo impor aos outros) ensinos que já não tem nenhum valor prático para o homem pós-moderno.(e até mesmo para a prática de fé do homem pós-moderno)
Por outro lado, quando descobrimos que a bíblia possui uma camada de leitura mais profunda do que o literal que está na superfície (como fazem e fizeram muitos rabinos e cabalistas), então descobriremos de fato, tesouros escondidos no texto bíblico.

DONI. Com a reforma protestante, um lema ganhou destaque: “sola escriptura”, mas o conceito de inerrância como conhecemos hoje, só ganhou força mesmo no início do século XX, com o advento do movimento fundamentalista, que tentava com isso conter o avanço do pensamento liberal. Mas este pensamento retrocede no mínimo ao momento histórico em que foi fechado o Cânon do novo testamento! Entretanto, ainda que muitos não aceitem, existem controvérsias sobre o resultado dessa deliberação. Alguns estudiosos supõe que pode ter havido falha, tanto na seleção como no critério para concluir a canonicidade de um escrito. Tanto é verdade que Martinho Lutero depreciava as carta de Tiago, Hebreus, e até o Apocalipse. Ele colocava em cheque a canonicidade destas epístolas. 
Pode ser que algum livro de autoridade tenha ficado de fora da lista? Só os fundamentalistas admitem que não.

EDU. Existem narrativas bizarras sobre a forma de se chegar ao cânon do NT. Uma dela nos diz que os evangelhos escolhidos foram quatro, por que dentre outras coisas, quatro eram os pontos cardeais...(citado por Voltarie) imagina se dá para levar essa construção canônica como algo inspirado pelo espírito santo?

MARI. Edu, não seja MALÉFICO! rs.. Eu pensei que houvesse motivos mais profundos para escolha dos livros.
Outra coisa, se Deus escolheu os simples, por que deixaria um livro com tanta complexidade? Veja que para fazer uma interpretação, é preciso fazer certas análises e conhecer o contexto histórico e etc...

DONI. A premissa de que devo ser capaz de abrir a bíblia e compreendê-la porque ela é a palavra de Deus é falha. Essa ideia foi concebida pelos pietistas, que criam na clareza das escrituras. Para eles as escrituras era simples o bastante para que uma criança a compreenda. Veja que os pietistas criaram suas próprias doutrinas, se isolaram por serem diferentes, resultado: O movimento não resistiu por muito tempo.
O problema começa Mari, com a simples constatação de que a Bíblia não foi escrita na nossa língua. Nesse primeiro estágio já nos tornamos dependentes da credibilidade dos tradutores. Aí que se encaixa a tarefa do teólogo, que diga se passagem é complexa demais! Porque à Bíblia não é uma teologia sistemática, e nem nos apresenta exposições doutrinárias organizadas. Cabe aos teólogos esse trabalho.

EDU. Estes devem andar de  mãos dadas na desconstrução da dogmática. 

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domingo, 24 de junho de 2012

COMUNIDADE UTÓPICA



Por Donizete

O homem até tenta desenvolver sua espiritualidade de maneira autônoma, livre da interferência de terceiros. Mas como disse no texto anterior, não há meios que permitam a concretude desse interesse.

Somos carentes de vida em comunidade, ninguém deve usurpar de si esta prerrogativa! O que não podemos ignorar é a diferença abismal que existe entre “agrupamento” e “comunidade”.

Comunidade pressupõe partilha de interesses e cuidado protetor mútuo, enquanto agrupamento é uma simples agregação de pessoas com raros objetivos comuns, pontuados às vezes apenas pelo cinismo utilitarista. Esta ruptura social, podemos chamá-la assim, é própria de grandes centros urbanos, que mesmo sendo densamente povoado, tem como isolamento e solidão sua principal marca, característica inexorável de uma convivência forçada entre as pessoas.

Na mente de muitos impera o famoso aforismo “antes só do que mal acompanhado”. Mas no meu humilde ponto de vista, o pensador Paul Valery está com a razão, quando diz: “um homem sozinho está sempre em má companhia”.

Por estas e outras razões que, em meus devaneios traço o perfil da comunidade cristã que procuro.  Uma comunidade que atenda às minhas expectativas. Utópicas? Sim! Mas tenho a esperança como um princípio vital. Devemos sempre sonhar com o mais e o melhor. A esperança não é nem realidade nem quimera, ela é quem sustem nossa luta pelo desejado, ansiado e querido.

Por isso publiquei em redes sociais este cartaz:

Procura-se uma comunidade que não obstante, jamais se deixar influenciar pelo secularismo, atente com uma outra ótica para a geração pós-moderna, contextualizando-se. 


Que conceba os problemas existenciais que emergem como resultado de nossa humanidade, e não como déficit de uma espiritualidade tradicional forjada em seu próprio arcabouço doutrinário.


Uma comunidade que tenha uma consistência teológica em sua cosmovisão, com capacidade de observar a cultura criticamente, identificando nela os pontos de contato com o evangelho e os pontos que funcionam como antídoto ao evangelho.

Uma comunidade que não sucumba ante a religiosidade, que ensine que a performance pessoal, a moralidade acima da média e o intenso ativismo, decisivamente não deve ser confundida com a legítima espiritualidade cristã. 

Procura-se uma comunidade que tenha resistido ao mercado da fé, que não tenha transformado o evangelho em um “business” e seus pastores em executivos visionários, que fazem do púlpito um balcão de negócios.

Uma comunidade que esteja disposta a renunciar a rotulação de reformados, evangélicos, católicos, e outras terminologias, para se definir estritamente como discípulos de Cristo, tendo consciência da amplitude que tal definição acarreta.

Uma comunidade, que quando for atuar diretamente na esfera política-social, seja de fato um agente de transformação, e não um agente de manipulação das massas, para que seus líderes alcancem o poder com a mesma motivação corrupta daqueles que o detém na atualidade.

Uma comunidade cujos líderes, se abdiquem de um modelo de igreja cheia de eventos, encontros, congressos e atividades que servem apenas como meio de receita, para se abrir a uma predisposição de fazer menos com mais objetividade, e canalizar seus recursos na sua totalidade no bem estar do ser humano.

sábado, 2 de junho de 2012

Igreja comunidade & igreja sociedade



Por Donizete.

É fato que existem os efeitos colaterais nas chamadas "igrejas famílias". Toda comunidade onde sob a título de testemunho, são compartilhados, tanto os problemas como os sucessos, é comum surgirem as intromissões, a inveja, a fofoca etc... mas no meu convívio neste contexto, o que tenho observado, é que as mãos estendidas para prestar ajuda ao outro, é o que tem ocorrido com maior frequência.

Posso testemunhar que vivi momentos de crises neste ambiente. E foi justamente nesta hora em que, os problemas e as divergências emergiram, que pensei em procurar uma comunidade onde me mantivesse no anonimato, em total isolamento. 

Seria mais ou menos de acordo com a diferenciação que faz o Leonardo Boff entre a “igreja sociedade” e a “igreja comunidade”. A priori pensei ter no primeiro modelo, a melhor maneira de adorar a Deus. Pois ali eu viveria minha espiritualidade de maneira mais autônoma, onde estaria livre de qualquer compromisso ou missão, se não a de marcar presença no culto dominical. Ledo engano! Pois não existe adoração legítima, se esta estiver desconectada de serviço. E não existe serviço se não houver participação e unidade com os demais. 

Como sabiamente disse alguém: “o contrário do amor não é o ódio, e sim a indiferença”. 

E esta consciência crística nos leva naturalmente ao envolvimento com as adversidades alheias, bem como de poder estar compartilhando dos momentos festivos e de alegria.

Cheguei a conclusão que os laços de fraternidade é essencial para a eliminação de diferenças e necessidades. Onde se prevalece o fator comunidade, fé e vida se fortalecem concomitantemente, minorando as crises existenciais entre seus membros. 

O fato de muitos historicizarem experiências desagradáveis no seio de uma comunidade não deve condená-la por completo. Pois se numa família nuclear existem tantos desafios a serem enfrentados para manter a estabilidade da mesma, imagine esta família multiplicada por cem?


Este texto é na verdade um comentário meu ao excelente texto do rodrigo na confraria teológica. www.logosemithos.blogspot.com 

domingo, 20 de maio de 2012

MUDANÇAS DOS PARADIGMAS DE SALVAÇÃO





No decorrer de quase 20 séculos de história da igreja cristã, ocorreram várias mudanças de paradigma tanto em termos de pensamento teológico como na prática efetivamente.
Uma delas, na qual desejo concentrar-me neste artigo, são as significativas mudanças da compreensão soteriológica que a igreja apresentou ao longo de sua história.

Antes, porém, é importante salientar que, em alguns casos as diferenças e transformações foram tão profundas e de tal alcance que os historiadores têm dificuldade de reconhecer quaisquer semelhança entre os modelos teológicos e eclesiológicos que operaram por determinado tempo. Isto, em se tratando de uma única igreja, torna-se um ponto relevante em qualquer pesquisa. Como se não bastasse, existe ainda, a realidade de cosmovisões divergentes entre as igrejas Oriental e Ocidental, que traçaram uma linha divisória entre si com tal radicalidade, que é necessário algum esforço para encontrar alguma compatibilidade entre elas. E ainda hoje se acusam mutuamente de anti-ortodoxia. Pois nunca chegaram a uma posição consensual nem da forma nem da prática existentes nos seus paradigmas.

A salvação é efetivamente, um assunto fundamental para qualquer religião. Para os cristãos, a convicção de que Deus operou, de forma decisiva, a salvação para todas as pessoas em e através de Jesus Cristo constitui o âmago de suas vidas. Afinal, o próprio nome Jesus significa “Salvador”.

Com base nesta premissa que a igreja desde seu início, assumiu a prerrogativa de mediar ou servir-se de portadora da salvação a toda humanidade. Mas a conclusão que chegamos é que o conceito de salvação vigente não foi dominante ao longo dos séculos. Logo, surge então alguns impasses de ordem epistemológica. 

Para termos uma ideia, durante quase toda a idade média, os cristãos concebiam a salvação em termos de coletividade. Ou seja, o indivíduo era salvo quando inserido no contexto da comunidade cristã, a chamada eclesiasticização da salvação. Idéia que teve origem em Agostinho na sua obra “A Cidade de Deus”. A salvação que ocorre, em termos de individualidade, é uma concepção relativamente nova, que teve sua gênese na reforma.

Mas para melhor compreendermos esta questão, se faz necessário retrocedermos pelo menos até o período neo-testamentário, onde percebe-se, que, salvação naquele contexto, foi interpretada em termos mais abrangentes. Isto é, não se restringia ao um livramento de juízo e de perdição no além. Na perspectiva de Lucas, por exemplo, como se vê por inferência em seu evangelho, salvação é, antes de tudo, algo que se realiza nesta vida, hoje. Para Lucas, a salvação é salvação no presente.

Enquanto que em Paulo, sua ênfase parece distinta. A salvação era vista como um processo que, tem apenas seu início nesta vida, que acontece com o encontro da pessoa com o Cristo vivo, mas a salvação completa está ainda pendente. Será concluída somente “com” e “na” glorificação completa do crente. Neste aspecto, a salvação se enquadra em categorias apocalípticas e de juízos.

Já no período da patrística grega a salvação deixou de ter essa conotação, para assumir a forma de Paidéia, de uma gradual elevação dos crentes a um status divino (a theosis). Neste caso, entendia-se a salvação como uma progressão pedagógica. Nesta teoria especificamente, enfatiza-se a origem de Cristo. E a encarnação encontrava-se no centro, como instrumento da Paidéia divina.

Entretanto, com o advento do iluminismo, toda essa interpretação de salvação passou a ser pressionada intensamente, resultando numa crescente contestação da soteriologia tradicional. Basicamente tudo teve que ser revisto. A idéia de uma salvação vinda de fora, de Deus, totalmente inacessível ao poder e à capacidade humanas, tornou-se muito problemática.

O que conhecemos hoje como crítica moderna da religião teve aqui, no iluminismo, seu ponto de partida. A religião como expressão da completa dependência e como salvação eterna no além constituía um anacronismo e um remanescente do estágio infantil da humanidade. A salvação agora foi resignificada como libertação da superstição religiosa, preocupação com o bem estar do ser humano e o melhoramento da humanidade.

Note que não houve uma ruptura radical com o pensamento iluminista. Temos seus batedores operando ativamente ainda hoje.

Outro ponto digno de nossa atenção, já que tocamos no assunto, são as diferentes ênfase daquilo que é chamado de “evento salvífico”. Por exemplo:

Enquanto que o Oriente concebia a salvação como uma progressão pedagógica, o Ocidente (católico e protestante) destacava o efeito devastador do pecado, assim como a restauração do indivíduo caído através de uma experiência de crise mediada pela igreja. Neste aspecto, nem a preexistência de Cristo nem sua encarnação, mas sua morte vicária na cruz, (doutrina aprimorada pela teoria de Anselmo sobre a satisfação vicária), encontrava-se agora no centro. A salvação representava a redenção de almas individuais no além, o que aconteceria por ocasião do apocalipse ou da morte individual do crente.

Note que o paradigma da salvação na perspectiva da patrística grega, estava voltado para a origem e o início da vida de Jesus. Para sua preexistência e encarnação. Enquanto o modelo ocidental orientava-se para o fim da vida de Jesus – sua morte na cruz. (expiação)

A igreja ocidental, tanto católica como protestante, preocupa-se com a paixão e a crucificação de Jesus. Em nossa compreensão soteriológica, a essência do evangelho é que Cristo morreu por meus pecados. A base da salvação está nesse ato. Cristo é o novo lugar de expiação, em substituição do templo. A cruz é o cerne da mensagem salvífica.

O problema decorrente deste paradigma é que a morte de Jesus é sutilmente isolada de sua vida.

Nós ocidentais, ou as igrejas protestantes, em geral, temos uma teologia subdesenvolvida da encarnação. Entretanto, foi exatamente em nosso ambiente que surgiu a teologia da libertação, que bem mais explicitamente do que foi feito até agora, entendeu a missão cristã em termos do Cristo encarnado, do Jesus de Nazaré humano que, exausto, trilhou os caminhos poeirentos da Palestina, onde se compadeceu das pessoas que estavam marginalizadas. Do mesmo modo ele se encontra do lado dos que sofrem nas favelas do Brasil, dos marginalizados e oprimidos pelo sistema vigente.

Nesse paradigma, a salvação é holística. Nele, o interesse não está em um Cristo que oferece apenas a salvação eterna, mas em um Cristo que sofre e sua e sangra junto com as vítimas da opressão.

Para finalizar, quero destacar que este texto apresenta apenas uma sinopse acerca do desenvolvimento e das modificações dos paradigmas teológicos, com enfoque, é claro, para as mudanças no tocante a doutrina da salvação.

E a tese que alguns defendem é que estas transformações não chegaram ao fim. E que talvez jamais chegará! Sobretudo quando constatamos uma atualidade repleta de modelos trabalhando concomitantemente, rivalizando entre si com temas aparentemente irrelevantes, mas que demonstra sutis ou totais incompatibilidades entre os mesmos.

Por Donizete.

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quarta-feira, 16 de maio de 2012

AMOR E SEXO



Amor é cristão, Sexo é pagão
Amor é latifúndio, Sexo é invasão
Amor é divino, Sexo é animal
Amor é bossa nova, sexo é carnaval (Rita Lee)

Em nossa cultura, o sexo é colocado num lugar de obscuridade. É visto como algo mundano, sujo e profano, e jamais como algo bonito, divino e nobre.
O grande responsável por este conceito errôneo foi Platão, quando ele, em sua filosofia gerou uma dicotomia na mente humana, acerca do que é espiritual e do que é material. Do que é corpo e do que é alma.
Platão defendia que, as coisas boas e perfeitas pertencem ao mundo das idéias. Mundo metafísico, mundo ideal a ser conquistado. Enquanto que as coisas do mundo físico, material, o mundo dos sentidos e das sensações, é o que se opõe a este mundo ideal.
Platão entendia que estes dois mundos estão em antagonismos, em guerras constantes, para se alcançar este mundo noumenal, o homem teria que travar uma guerra contra o outro mundo, o mundo fenomenal, que era o ilusório, enganoso e mal.
Não nos causa nenhuma surpresa constatarmos Paulo dialogando com a filosofia platônica em seus escritos, quando por exemplo, ele explica os constantes embates entre a carne e o espírito, um se opondo ao outro.
Mas foi durante a idade média que a igreja adotou de vez o paradigma da filosofia de platão, e começou a conceber a vida dessa forma. A idéia de que Deus não tem interesse nenhum no corpo, e erroneamente é visto como a prisão da alma, das coisas boas, gerou algumas doutrinas que levaram as pessoas ao auto flagelo e as penitencias.
Outra coisa derivada dessa idéia, é de que aqueles que queriam se dedicar a Deus tinham que reduzir ao máximo os prazeres do corpo. Logo, a pessoa que tivesse vida sexual ativa não podia desfrutar da intimidade com Deus. Esta tensão entre a sexualidade e o sagrado sempre esteve presente na igreja cristã.
Entretanto, esta dicotomia não é exclusividade da cultura cristã, mas até mesmo na cultura secular contemporânea.
Um dos sucessos da Rita Lee faz uma comparação entre o amor e o sexo. Ela enfatiza esta dicotomia atribuindo a sexualidade algo perverso, maléfico e obscuro. Segundo a música, o amor é cristão, já o sexo é pagão. Muito embora expresse o senso comum, trata-se de um equívoco; sexo é cristão tanto quanto é o amor.
Deus é muito mais a favor do sexo do que podemos imaginar. Desde é lógico, que o sexo não seja apenas mais uma opção de entretenimento para consumo individual ou usado de forma ilegítima.
Por Donizete

terça-feira, 24 de abril de 2012

Meu lugar é na platéia




No palco pensamos que Deus está a nossa disposição para atender os nossos caprichos.

No palco corro o risco de pensar que sou o astro (ainda que eu diga o contrário) e esqueça que o único digno de ser reverenciado é o Eterno Deus.

No palco sou levado a crer que as bênçãos de Deus só serão estendidas ao outro através da minha atuação como mediador.

No palco corro o risco de vangloriar-me, por conceber a idéia de que o senhor me abençoou em detrimento daquele que não me ajudou no momento em que chorava.

No palco sou levado a crer que o meu triunfo sobre as adversidades foi justo e merecido, e venha a classificar como indignos os mortos e feridos que não tiveram a mesma sorte.

No palco pode ser que eu me esqueça do evangelho de cruz, de abnegação, e me enverede pelo caminho dum evangelho triunfalista que tem no bem estar do homem a sua centralidade.

No palco pode ser que, ao invés de falar do amor irrestrito de Deus que a tudo transcende, acabe enfatizando um disangelho de retribuições, de terrorismo, onde Deus, ao melhor estilo talibã, castiga aqueles que não foram capazes de satisfazer os seus caprichos.

No palco sou levado a crer que Deus, como expressão exata do papai Noel, me presenteia somente no caso de ter-me comportado bem, e esqueça que nada do que eu fizer o fará me amar mais e nada do que eu deixar de fazer o fará me amar menos.

No palco posso ser possuído pelo pensamento insano, de achar que tenho o direito de ter inimigos, e que, um dia, o “meu Deus” me dará ao luxo de vê-los rastejando para pedir-me perdão. Ou então o Senhor os transformará em tapetes onde limpe os meus pés.

No palco pode ser que me sinta num grau tão elevado que não perceba as ambigüidades dentro do meu ser, e numa leitura equivocada das situações conclua que Deus me deve alguma coisa, e por isso tenho o direito de exigir dEle a restituição.

No palco corro o risco de pensar que todos aqueles que ainda estão na platéia, é porque não atingiram o mesmo nível de fidelidade que alcancei, logo, estão mesmo vivendo na concretude à margem da graça de Deus por questões de mérito.

No palco, vou estar almejando os aplausos e elogios. Sempre buscando a condição de celebridade, a figura central das salas Vips, onde confraternize com a cúpula, e não chore por aqueles que são friamente excluídos por não gozarem da mesma importância.

No palco posso ser tomado pelo sentimento de que existem patamares ainda mais altos a serem alcançados, e a posição atual é apenas o trampolim para uma carreira de maior sucesso, e negligencie a verdade de que muitos na ambição de serem ricos e detentores de poder, caem em muitas ciladas, e os cuidados da vida e a sedução das riquezas venha sufocar a semente do evangelho no meu coração.

No palco pode ser que, na tentativa de tornar-me cada dia mais popular, mais admirado por todos, queira agir apenas com base no politicamente correto, e mascare ou suprima as exigências do evangelho no tocante às atitudes humanas.

No palco pode acontecer de sobrecarregar-me de tal maneira que eu não tenha mais tempo de reciclar meus conhecimentos e me aprofundar mais no estudo da teologia, e fique apenas na superficialidade dos textos bíblicos.

Não quero estar no palco, porque pode ser que na tentativa de fazer manutenção do meu status, venha a negligenciar valores absolutos como dignidade, ética, e o padrão moral exigido por uma sociedade sadia.

No palco estaria muito preocupado com minha performance em oratória e esqueceria que o mais importante é o crescimento do reino de Deus e o enlevo espiritual dos seus servos.

No palco posso ser tentado a proferir frases de efeitos como “o melhor de Deus está por vir” e não considerar que o melhor que poderia nos acontecer foi a vinda do Filho de Deus para nos salvar, e tenha o foco desviado para a esfera da conquista material.

No palco pode ser que na tentativa de criar um clima favorável, venha a proferir jargões decorados como por exemplo: “você não vai morrer enquanto o senhor não cumprir as promessas que te fez” ou: “Hoje seu milagre vai chegar”, sem refletir sobre a possibilidade disso não acontecer, e a confiança depositada em Deus venha ser comprometida.

O palco, no qual eu me refiro é uma alegoria que representa o indivíduo que quer estar em evidência a todo custo. Eu prefiro estar na platéia em condição de igualdade com todos. Sendo, de igual modo, todos, participantes da graça e misericórdia de Deus. Ciente que o único digno de estar em posição de destaque é o Eterno Deus.

Por Donizete.