sábado, 16 de julho de 2011

Rumo ao ecumenismo



A igreja desde o seu nascimento, ainda nos dias dos apóstolos já teve seus primeiros contatos com as heresias. Há uma tradição do século II, que descreve um embate entre o apóstolo João e um eminente mestre gnóstico da cidade de Éfeso por volta de 90 dC. Cerinto era o seu nome. Provavelmente um dos primeiros mestres gnósticos e perturbadores da igreja no final do século I. De fato, tanto o apóstolo João como os sucessores dos apóstolos na igreja primitiva, considerava o gnosticismo como sendo o principal inimigo do cristianismo nos primeiros séculos. Porém o gnosticismo foi apenas uma entre as várias heresias que vieram a se tornar um grande problema para os líderes cristãos daquela época. Ainda no século II surgiu o montanismo, movimento profético fundado por um sacerdote pagão chamado Montano. Outro famoso opositor da fé cristã foi um filósofo por nome Celso. Este escreveu um livro contra a fé dos cristãos, o que Levou Orígenes a escrever Contra Celsum, uma das suas primeiras obras de apologia. No inicio do terceiro século surgiu o primeiro ataque a Trindade, doutrina recém criada pelos teólogos patrísticos, que ficou conhecido como modalismo ou sabelianismo segundo seu proponente, Sabélio. O modalismo rejeitou a doutrina da trindade e argumentou que o único Deus se revelou ao mundo em modos diferentes e sucessivos. No antigo testamento ele se revelou como Pai, nos evangelhos como Filho e depois da ressurreição como Espírito. As correntes teológicas atuais que ensinam o unicismo teve neste movimento sua origem. O arianismo, heresia do início do IV século, promovida por Ário,  Presbítero de Alexandria, que também no esforço de manter um monoteísmo absoluto negou a divindade de Jesus. Segundo Ário, o Cristo pré-encarnado era um ser criado, o primogênito da criação. Mas houve um tempo em que o filho não existiu. As testemunhas de Jeová defendem esta idéia. Foi em razão dessa controvérsia que aconteceu o primeiro concílio de Nicéia, em 325, que resultou na condenação da perspectiva ariana. É justamente neste ponto que eu quero chegar. Na medida em que as falsas doutrinas surgiam, havia a reação imediata por parte dos apologistas cristãos, os quais merecem não pouco reconhecimento por sua fé, virtude e zelo que nutriam pela doutrina sagrada. Nomes como Clemente de Roma, Clemente de Antioquia, Inácio, Policarpo, Justino o mártir, Irineu, Tertuliano, Crisóstomo, Agostinho e outros heróis que foram responsáveis pela preservação dos ensinos apostólicos. [1] ( se acaso o leitor quiser conhecer os escritos desses guardiões da fé, a Editora Paulus publica suas obras com o título Patrística). É bom lembrar que foi nesta época que nasceu a teologia. à medida em que os herdeiros dos apóstolos começaram a refletir os ensinamentos de Jesus e deles a fim de explicá-los em novos contextos e situações e resolver as controvérsias quanto as crenças e condutas cristãs, é que iam sendo elaborados os sistemas teológicos. Irineu, já citado anteriormente, foi provavelmente o primeiro cristão a apresentar um relato completo de teologia. Por isso ele é considerado o primeiro teólogo sistemático cristão.
No decorrer de dois mil anos de igreja, houve sempre muitos debates, conflitos e até mortes, isto no tocante até mesmo a diversas questões consideradas secundárias da doutrina cristã. Um exemplo disso foi à falta de união entre Lutero, Zuínglio, Calvino e outros reformadores, tudo por falta de consenso sobre a questão da transubstanciação. Então, as vezes por causa de pequenos desacordos, já era motivo suficiente para que pessoas fossem consideradas hereges.
Não há dúvidas, de que o acerto doutrinário e teológico importava demais. Nos nossos dias, porém, parece que o pêndulo já chegou à extremidade oposta. Os líderes estão fazendo vista grossa às heresias e modismos, que tem se infiltrado livremente no seio da igreja. Não há mais nenhuma resistência. Há casos, é lógico, de menos importância. E não devemos promover uma guerra por causa deles. Contudo, alguns são dogmas e merecem ser defendidos séria e até mesmo calorosamente. Acredito que a Trindade e a divindade de Jesus pertencem a esta categoria. Partindo deste pressuposto, não deveríamos admitir nenhum grau de comunhão com qualquer movimento que se declare unicista. Fato comum em nossos dias. A verdade é que não a mais a preocupação da preservação e separação da sã doutrina em relação às heresias. Os principais líderes eclesiástico se tornaram apenas grandes administradores de "empresas”. Já há muito tempo substituíram os compêndios de teologia pelos manuais de economia e administração. Dizem os especialistas que a formação teológica entre os cristãos está no nível mais baixo de sua história. O entendimento teológico tem sido substituído por “experiências de adoração”.

Donizete
[1] História da teologia cristã, Olson, Roger, Ed. Vida 

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